Existe milagre ateu
Ontem presenciei um milagre ateu; um milagre urbano; um milagre pela ação de mulheres e homens, no Espaço Preto do prédio de Teatro da UFMG: transformação do espaço de uma sala de aula de teatro em um mini-mundo, no qual morava a personagem Ana, para o qual pessoas se dispuseram a lá estar para construir as condições materiais do milagre… Milagre do teletransporte, do tematizar a morte de modo (relativamente) leve, de doar teatralidade a uma plateia, pessoas que foram assistir a um teatro. Teatro: ação de ver.
Ontem também terminei a escritura de um texto, algo que demorou muito para ser gestado; os prazos mudavam, eu me afastava e mergulhava, sofria e criticava, até que aconteceu um milagre ateu, que proporcionou que o texto ganhasse visceralidade: a ocupação das escolas em São Paulo, no final do ano passado. Milagre urbano, milagre pela ação de meninas e meninos, que derrubaram um Secretário de Educação que teria planejado mudanças dos mundos de vida dos secundaristas como se os alunos e suas famílias fossem peças de brinquedo. Uma sacada (entre tantas!) de um deles:
#NãoSomosCidadizinhadeLego
Nascimento: momento central do milagre ateu. Grito, água, suor, vísceras, dor e colo para o novo.
Vida: ação de ver a transformação de dentro e de fora, mas especialmente, entre.
Morte: necessário desfecho para o milagre ateu. Fim do processo, início da memória daquilo tudo que permaneceu vivo. Fim da narrativa autoral. Começo da continuação ‘sem mim’.