Work in process: um modo de ser e estar no mundo
Começaram as aulas e me ví revisitando meus grandes temas desde que cheguei na UFMG, com o início da docência universitária no segundo semestre de 2012. Um dos temas mais caros no ensino de teatro na contemporaneidade é, a meu ver, a metodologia work in process e suas possibilidades. Algo interessante, aberto, passível de fluxos e refluxos, e que nunca se apronta. Nunca se apruma. Significa então uma escolha pelo instável, pelo incerto, pela fragilidade… que, num outro ponto de vista, pode querer dizer “mal feito” e “inacabado”. E é.
Eu gosto cada vez mais do mal feito e do inacabado nas artes da cena.
Tomem o “mal feito” como uma oposição ou uma antiestrutura ao teatro da técnica e da busca de primor nos seus fazeres.
Eu gosto cada vez mais do rústico; daquilo que lembra o faz de conta de meninos; o que revela pesquisa em traço, rabisco e garatuja teatrais. O que leva a uma dúvida, que eu também cada vez mais gosto: isso é teatro?
Quando o “isso” não é reconhecido como teatro estrito senso parece que cai na caixa da classificação “performance”. Mas eu escolheria a caixa – aberta, esgarçada, por vezes de papelão rasgado ou molhado… — do trabalho em processo / work in process.
Que raios então é “isso”?
É a expressão de algo e de alguém em um tipo de suporte que não sabemos reconhecer com clareza. Para tal se tem a palavra “hibridismo”: mistura, bagunça, degradê entre artes, poéticas, literaturas e antropologias…
Pois como e por que “isso” tinha que ter clareza, ser primoroso em termos desta ou daquela técnica, e apresentar uma ideia clara com fluxo de continuidade linear e de dramaturgia reconhecível, classificável?
Meu gosto por “isso” certamente é biográfico, e resvala no meu canto desafinado, quando atuei no Teatro Ventoforte.
Eu tinha que cantar:
a minha velha tinha uma vaca / a minha velha tinha uma vaca / e a vaca mu / o galo cocó / a galinha có / e o pintinho piu… o pintinho piu… o pintinho piu
Por muitas e muitas vezes entrei “fora do tom”!
Mas era algo rico em teatralidade! O diretor Ilo Krugli, quando assistia da plateia, ria. Simples assim.
A minha velha cantava desafinado…….. a minha velha ficou conhecida como “a Mu”. Isso foi no século XX. Agora, eu posso dizer: a minha velha era pós-dramática! Criativa! E demasiadamente humana. MU.
Lindo!!